quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Filha de gueirreira, guerreira é


Muita gente reza por minha mãe, mas não tem ideia de quem é a Aldinha. Então, contarei a história dessa guerreira que não merece ser machucada. Ela nasceu em Santa Rosa (RS) e é filha única de d. Olivia, uma alemã que veio de Munique com duas irmãs – além de dois irmãos que, resfriados, foram atirados na água para não contaminar ninguém no navio –, e Agenor, que morreu quando minha mãe tinha 3 anos. Vó Olivia, então, deixou Aldinha sozinha em casa por muitos dias com um copo de leite e pedaços de pão. Minha mãe chorava muito. Diante disso, uns ciganos a pegaram para criar.
Ela aprendeu a ler a mão, cantar e fazer artes manuais. Minha vó, então, a matriculou em um colégio para virar freira. Em um final de semana na casa da “vó ela” (tiaavó) conheceu meu pai, Luís. Dizem, da parte dele, foi amor à primeira vista. Ele tinha 21 anos e queria se casar com ela, de 15. Falou que se Aldinha virasse freira, se tornaria padre (mentira, mas bonitinho). Eles se casaram e, quando minha mãe tinha 16 anos, nasceu minha irmã Sola.
Meu pai, militar, foi viver no Rio de Janeiro por um ano. Aldinha cuidou do bebê com ajuda dos meus avós paternos Eduardo e Carolina. A vó Olivia sempre foi distante e a apresentava aos outros como sobrinha, não como filha. Quando meu pai voltou, minha mãe engravidou de novo. Aos 26, já tinha Sola, Mara, Cira, Blad e eu. Depois, engravidou de gêmeos, mas os bebês não vingaram.
Em 1970, fomos morar no Rio. Como meu pai batia muito em meus irmãos, Aldinha se revoltou e disse que, se ele levantasse a mão para nós, perderia mulher e filhos. Certa vez, meu pai teve câncer. Nesse período, minha mãe descobriu que era traída com várias mulheres e sofreu: ela perdeu cabelo, pensou em suicídio e, anos depois, foi diagnosticada com Parkinson. Na época, já vivia com outra pessoa, mas ele a deixou por causa da doença. Isso piorou os sintomas. Hoje, ela não fala, não anda e se alimenta por sonda. Porém, sua cabeça funciona cem por cento. Alguém me explica como uma pessoa que viveu só para os filhos pode sofrer tanto? E por quê? Minha mãe é guerreira e, se pudesse, agradeceria cada oração e palavra carinhosa de vocês para ela.
                                                                                                                                                                   Xuxa Meneghel

Um comentário:

  1. Xuxa eu sempre te admirei muito, mas confesso que quando vejo filhos que amam verdadeiramente suas mães me comovem, choro, admiro muito.Porque mãe é a pessoa mais importante do mundo e que tem deve amá-la eternamente.Namorados acham que amam eternamente, é mentira, esses amores vão e vem e amor igual ao de mãe nao tem.Você é muito abençoada por isso e Deus sabe como fico grata por ver uma pessoa assim com a mãe.Eu era assim com a minha.E aos 56 anos foi levada por Deus, mas estou aqui para orar pelas mães dos outros e ajudar os filhos a valorizarem suas mães através de um vídeo texto no youtube chamado da Mayala Morenna Melancolia.
    Parabens Xuxa cada dia te amo mais e com a sua mae nao é diferente, AMO TAMBEM...

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